Nem todo vinho que borbulha é espumante! E saber a razão pela qual há tantos nomes diferentes para identificar esses vinhos borbulhantes é importante para entender, entre outras coisas, o porquê de certos exemplares serem mais famosos ou, simplesmente, muito mais caros do que os outros.
Espumante, frisante, champanhe, prosecco, cava e sidra: vale a pena diferenciar todas?
Não, apenas 3: sidra, frisante e espumante.
A sidra, popular entre os brasileiros, é uma bebida resultante da fermentação do suco da maçã ou da pera (ou seja, não é um vinho!) e possui borbulhas por conta do gás carbônico que é nela inserido artificialmente.
O frisante é um vinho pouco gaseificado e com pouca espuma. O gás carbônico que ele possui advém da fermentação alcoólica, a qual é comum a todos os vinhos. Ocorre que, diferentemente destes, no caso do frisante, o gás produzido nessa fermentação é mantido para que o vinho tenha esse efeito mais gaseificado. É importante salientar que há casos em que esse gás pode, também, ser inserido artificialmente.
Por fim, o espumante é um vinho bem efervescente, ou seja, gaseificado e com espuma. Todo esse vigor provém do gás carbônico originário não só da fermentação alcoólica, mas, também, de uma segunda fermentação, a qual pode ocorrer dentro de tanques de inox (processo Charmat) ou dentro da própria garrafa (método tradicional ou processo Champenoise).
Eles são espumantes.
O que ocorre é que a região francesa Champagne faz parte do sistema Appellation d’Origine Contrôlée (AOC), no qual há um rígido controle de qualidade na produção de certos produtos, os quais, geralmente, possuem o nome do local que os produziu. No caso dos vinhos espumantes feitos em Champagne, eles seguem um padrão de criação que, entre outras coisas, estabelece qual o método de produção a ser seguido (o único processo aceito é o Champenoise) e as uvas que serão utilizadas (Chardonnay, Pinot Noir, Pinot Menieur, Arbane, Petit Meslier, Pinot Blanc e Pinot Gris). Seguindo tais regras de controle, os espumantes lá produzidos serão chamados de champanhe. Fora dessa região, ainda que se valendo do mesmo processo e das mesmas uvas, a bebida não poderá receber tal designação (ou seja, ela poderá ser chamada de espumante, sparkling wine, entre outros – exceto champanhe).
Já o prosecco não pertencia, originariamente, a uma região: ele era o nome de uma uva bastante comum em Vêneto, Itália. Ou seja, qualquer espumante que fosse produzido com essa uva, independente do local, poderia ser chamado de prosecco. Ocorre que, por força da iniciativa de alguns produtores italianos, sobretudo das regiões de Valdobbiadene e Conegliano, desde agosto de 2009, o prosecco foi inserido dentro de um sistema de origem controlada, de forma que deixou de ser o nome da uva (que passou a se chamar glera) e recebeu a denominação própria e exclusiva “prosecco”. Considerando isso, da mesma forma que o exemplo anterior, fora de determinadas regiões produtoras italianas, ainda que se valendo dos mesmos padrões de elaboração, mesma uva e o mesmo método (que, no caso, é o Charmat), esses vinhos poderão receber qualquer outro nome, menos prosecco.
Por fim, o cava é um espumante espanhol e uma denominação exclusiva, tal como os anteriores, pois é produzido sob determinadas regras e delimitado a certas regiões espanholas (com destaque para a Catalunha, a maior produtora). O cava segue o mesmo padrão do champanhe, em relação ao método empregado (Champenoise), porém é elaborado, ainda que nem sempre com total exclusividade, a partir de uvas locais (Viura, Macabeo, Xarel-lo e Parellada). Ele não é tão conhecido quanto os exemplares os anteriores, mas é bem conceituado internacionalmente.
O fato do prosecco, do cava e do champanhe pertencerem a regiões produtoras específicas e seguirem um protocolo de produção mais rigoroso faz com que o custo de investimento, a qualidade e, sobretudo, o renome, elevem o preço final desses produtos. Contudo, deve-se sempre ter em mente que paladar é paladar: nem sempre o vinho mais caro ou famoso é uma aposta certa em termos de prazer ou de satisfação. Na dúvida, é sempre mais seguro buscar informações sobre o vinho ou até provar (se possível) antes de comprá-lo.
Mas, no geral, é possível gastar menos do que se imagina e comprar excelentes frisantes e espumantes, nacionais e importados. Aliás, é bom destacar que, apesar da tendência de se achar que “o importado é sempre melhor”, no Brasil se faz ótimos espumantes, acessíveis e de reconhecimento internacional, ou seja, produtos que podem sim, valer o investimento.
Tanto é seguro afirmar que os vinhos espumantes brasileiros são promissores que, segundo a EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), comparativamente entre os anos de 2014 e 2015, enquanto houve um decréscimo nas importações de espumantes (por volta de 4,92%), no mesmo período, houve um significativo aumento na comercialização interna de espumantes, espumantes moscateis e espumantes finos nacionais (cerca de 16,64%, 22,48% e 14,51%, respectivamente).
É possível que esteja nascendo uma nova perspectiva, nesse sentido.
Uma outra tendência que existe é associar esse tipo de vinho exclusivamente às ocasiões festivas. Isso reflete diretamente na sua comercialização, a qual, no Brasil, claramente se intensifica nas festas de final de ano.
Contudo, é importante que se saiba que os espumantes e os frisantes são muito versáteis e podem ser bebidos (a qualquer tempo) em drinks, combinados com aperitivos e com refeições, além de harmonizarem muito bem com diversos tipos de sobremesas.
As mil e uma utilidades desse tipo de vinho, embora sejam ignoradas por muitos, é, justamente, o que o torna especial e mais acessível do que as outras variedades de vinhos. Felizmente, como atestam as estatísticas, os vinhos borbulhantes fazem parte de um mercado competitivo e em constante crescimento. Portanto, é esperado que, com o tempo, haja um aumento significativo de apreciadores exigentes e apaixonados por essas bebidas, não somente nas festas e nos eventos, mas durante o ano inteiro.
Fonte: EMBRAPA