Duas equações básicas:
a) Dois vinhos da mesma região + mesma uva + mesma safra + cada qual feito por produtores diferentes = vinhos que podem ser bastante semelhantes entre si ou bem diversos pois, da terra à garrafa, as variáveis são infinitas.
b) A mesma uva + a mesma região + o mesmo produtor + safras diferentes = vai depender do que pretende o produtor. Tem vinhos que são feitos pra repetirem as suas características ano após ano. Já outros – geralmente os com menor intervenção, ou feitos a partir de leveduras autóctones ou vinhos cujas uvas são cultivadas em climas mais instáveis – podem apresentar alguma ou muita variação safra a safra.
A equação deste post parece ser a segunda.
Explico: a primeira vez que bebi o Touriga Nacional Single Vineyard foi num encontro promovido pelo jornalista Luiz Horta, o saudoso Família Bebe Tudo. Isso foi lá por 2018. Das garrafas degustadas às cegas naquela noite – e cuja estrela era a Touriga Nacional – esse vinho foi um dos mais queridos.
Créditos: Facebook Seival Estate (Miolo Wine Group)
Enquanto alguns vinhos postados nesse blog são difíceis de encontrar, os da Miolo são abundantes e estão distribuídos de norte a sul no país.
O motivo dessa fartura toda é que a Miolo Wine Group não é uma empresa pequenina e que se encerra no Vale dos Vinhedos (RS). Pelo contrário: ela é a maior exportadora de vinhos do Brasil, presente em mais de 30 países ao redor do mundo, com uma área cultivada de cerca de 1.000 hectares e, somando a produção de todas as vinícolas pertencentes ao grupo, são cerca de 10 milhões de litros produzidos por ano.
As tais “vinícolas pertencentes ao grupo” se distribuem em 2 regiões: sul e nordeste. Além da Vinícola Miolo no Vale dos Vinhedos/RS, tem também a Seival na Campanha Meridional/RS, a Vinícola Almadén na Campanha Central/RS e a Vinícola Terranova no Vale do São Francisco/BA. E fora elas, a Miolo Wine Group também faz parcerias internacionais, como se vê nos rótulos argentinos Los Nevados e nos chilenos Costa Pacífico, à venda na loja online da empresa.
O vinho de hoje veio da Campanha Meridional/RS e faz parte da linha Single Vineyard. O produtor o descreve com um “nariz típico de Touriga Nacional, o floral nos invade de princípio ao fim do gole de vinho. As notas de carvalho aparecem complexadas, respeitando a flor da Touriga. Vinho untuoso, de média a alta estrutura, muito equilibrado, pois encontramos o nariz do vinho na nossa boca, bom volume de boca e acidez refrescante”.
Considerando o fato do produtor não ter descrito a safra na ficha, é de se entender que a bebida deveria reproduzir, ano a ano, as características acima.
Pra começar, é um tinto com aromas complexos de violeta, ameixa e groselha preta frescas, tabaco, madeira e especiarias doces (cravo). É seco, tem um álcool alto, possui acidez e taninos médios, corpo e final de boca médios. O retrogosto é marcado pela madeira, que atropela a fruta sem dó.
Era noite de pizza calabresa improvisada e o lanche até cumpriu a sua parte, porque trouxe algum agrado pro paladar frustrado. Porém, sinceramente falando, não acho que harmonização alguma – nem pizza, nem carne e muito menos a feijoada indicada pelo produtor- salvaria essa experiência, porque o vinho é desequilibrado demais pra se sustentar à mesa.
Ele sai por R$ 85,89 na loja da Miolo.
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E se você já experimentou o Touriga Nacional Single Vineyards 2019, avalie aqui embaixo!