Foi com muito gosto que recebi dois vinhos da Valparaiso Vinhos e Vinhedos e aguardei ansiosamente pra servi-los com todo o cuidado que mereciam.
Antes de conhecer o portfólio da vinícola, eu já a seguia nas redes e sabia que o seu trabalho envolvia a mínima intervenção nos vinhos, produção limitada e o uso de leveduras selvagens.
É interessante notar que não faz tanto tempo assim que se discutia sobre marcas, preços e origens do vinho e mal se falava sobre a vinificação e no que poderia haver dentro do vinho, além da uva. Hoje a perspectiva mudou e não são poucos os apreciadores de vinho que querem entender os processos e saber o que realmente estão bebendo.
Embora esse movimento pareça novo no Brasil, o fato é que já existem muitos produtores aqui e mundo afora que pensam na transparência de seus vinhos e na sua responsabilidade ambiental há anos. Se a discussão parece atual pra você, pra muitos é a filosofia de vida. É a forma de trabalho.
Nesse contexto, passo à história da Valparaiso. Em contato com a Naiana Argenta, soube que o responsável pela propriedade de 60 hectares é o seu pai, o engenheiro agrônomo Arnaldo Argenta. Situada em Vila Rica, município de Barão (Serra Gaúcha), a antiga Granja Valparaiso era considerada a maior plantação de uva em extensão no Brasil, gerou bastante emprego e marcou a história da região na década de 70. Foi adquirida pelo Arnaldo em 2006 e deixou, como recordação da sua existência, as paredes de pedra basáltica que propiciam o ambiente ideal para a conservação e maturação dos vinhos.
Naiana conta que o diferencial da Valparaiso hoje está na produção das uvas. Investiu-se no Sistema de Produção Protegido, que consiste na colocação de filmes plásticos que recobrem as videiras e as protege do excesso de umidade e do granizo, ambos comuns na Serra Gaúcha e responsáveis por prejuízos imensos. Além da função protetora, foi possível reduzir drasticamente a aplicação de insumos fitossanitários, o que resulta em uvas saudáveis, amadurecidas por completo e livres de resíduo agrotóxico. Nessa linha, ao colher uvas de boa qualidade e em perfeitas condições de amadurecimento, não seria preciso se valer de artifícios e de correções enológicas para elaborar o vinho, outro diferencial que a Valparaiso enfatiza sobre o seu trabalho.
Ao todo, são cultivadas 45 variedades de uvas. Entre elas estão as conhecidas Chardonnay e Pinot Noir e algumas variedades italianas pouco vistas por aqui, como as Garganega, Sangiovese, Rondinella e Nebbiolo.
No portfólio que recebi, contei 10 rótulos bem variados e coloridos, entre brancos, rosés e tintos. Segundo as informações que obtive, todos os vinhos tem o mesmo processo de vinificação. A saber:
Tive a satisfação de degustar 2 deles e quero apresentá-los agora.
O vinho fino rosé Vitale Rondinella foi o primeiro. Segui a orientação de deixá-lo aerar por um tempo antes de degustá-lo. Aliás, isso responde algumas perguntas que me fazem sobre aeração de um vinho: a técnica pode valer pra brancos, tintos e rosés, tudo depende da proposta. O contato com o ar pode “abrir” o vinho e deixá-lo mais expressivo, como aconteceu com esse rosé. Então foi um olho na temperatura e outro na aeração e o vinho estava prontinho pra beber.
Impressões: a cor é muito bonita, uma mistura de tons rosados e alaranjados bem impressionantes. A princípio, os aromas que se destacaram foram frutados e herbais, mas a percepção foi mudando com o tempo de aeração. Logo, o tomate e a goiaba (que apareceram fortes) deram espaço pra aromas mais frescos e adocicados de cereja e morango, além de uma nota floral. Ele é leve, tem uma adstringência muito sutil, é persistente e tem uma boa acidez. É um vinho rosé diferente dos rosados mais sutis e delgados que tem por aí: tem mais personalidade no sabor, é agradável e acessível.
O segundo foi o vinho de mesa rosé Vitale Isabel. Apesar de ser rechaçada pela turma do “só bebo vinho fino”, há de se reconhecer a importância e o valor histórico da uva. Nos tempos em que a Vitis Vinifera não vingava no Brasil, foram as variedades americanas que sustentaram muitas famílias e marcaram o consciente brasileiro com o seu gosto e o seu perfume. Tanto é verdade que, se eu abrir uma garrafa de vinho feito com a Isabel, seu aroma me joga direto na infância, quando o único tipo de vinho que eu via as pessoas beberem nas festas era esse.
Impressões: A cor rubi chama a atenção, é bem atraente. O aroma é da própria uva, bem intenso e característico, além de um toque floral. O vinho é leve, tem taninos presentes e uma boa acidez. Há uma persistência longa e se percebe um amargor residual. No geral, é evidente o cuidado que se teve na elaboração do vinho e ele entrega o que se espera. Embora não se possa compará-lo ao vinho fino, do qual se consegue extrair mais complexidade e profundidade, gosto de pensar no vinho Isabel da mesma forma que penso nas muitas sidras que já bebi por aí: uma bebida fermentada que tem o sabor e aroma específicos da própria fruta que o compõe.
A linha de vinhos da Valparaiso é diversa e interessante e podem ser encontrada no site da vinícola (link abaixo). Qualquer dúvida ou informação, basta entrar em contato com o pessoal responsável pra ser carinhosamente atendido.