03/02/2022

Dia de beber e harmonizar um Pinotage!

Categoria:  Degustação, Entre R$ 200 e R$ 300, Importado, Vinho Tinto

Por: Tamine de Moraes

Kadette Kanonkop

Converso com muita gente boa no setor de vinhos. Aliás, esta é a melhor parte da área: conhecer gente interessante que discute sobre tudo – da política à taça.

E como tem muita gente boa, também tem muito sabichão. Sabichão certificado e não-certificado, sabichão influencer, sabichão marqueteiro… sabichão de tudo quanto é perfil.

Como são?

Onde vivem?

Ora, é bem fácil de identificá-los: geralmente são aqueles que costumam ter muita pressa pra responder o que ninguém perguntou. Ou que se atravessam pra responder primeiro, só por exibição.

Sabichões existem e é normal que existam. Qualquer área de conhecimento, na medida em que vai sendo desbravada, provoca em nós essa vontade de falar e de se mostrar. O saber, o indicar e o sugerir são expressões de poder e, convenhamos, todo mundo quer ser poderoso.

Porém, não é porque é normal que deixa de ser chato. Aliás, é triste presenciar gente crescendo pra cima dos outros, espetáculos de egos se atropelando nas feiras de vinhos, nas lojas, nas degustações coletivas e até nos cursos de formação.

E de novo: vejo isso no setor de vinhos, mas é um comportamento que existe em qualquer área de conhecimento. Tem arrogantes na Medicina, vaidosos na Advocacia e panacas na Filosofia. Todas essas versões circulam por aí porque a coisa não é sobre carreira: é sobre gente.

É por isso que os bons especialistas de vinhos não podem ser reduzidos aos sabichões e aos enochatos. Nem o seu trabalho deve ser confundido com os deles! Tem muita gente incrível – e com presença online – que está disposta a compartilhar e a ouvir, ao invés de se pavonear.

Sigamos as pessoas certas 🙂

Na época da ABS-SP e estudando sobre África do Sul, ouvi sobre o produtor Kanonkop e seu trabalho com a Pinotage.

Hoje, os dois são as estrelas do post.

Pinotage Kanonkop

Kanonkop é uma propriedade familiar conduzida hoje pela 4° geração – os irmãos Paul e Johann Krige. Achei interessante a origem do nome Kanonkop: ele é inspirado numa colina (kop) na montanha de Simonsberg que fica acima da propriedade. Durante os séculos 17 e 18, ela foi usada pra disparar um canhão (kannon) pra anunciar a chegada de veleiros na baía Table. O disparo era um sinal para produtores locais encherem as suas carroças com frutas e vegetais frescos e iniciar uma jornada de 50km até o porto pra trocar os seus produtos.

Os primeiros vinhos Kanonkop começaram a ser produzidos em 1973 e, segundo a Mistral, a vinícola é conhecida nacional e internacionalmente por produzir os melhores vinhos do país. Atualmente, possui uma área de 125 hectares, dos quais 100 são utilizados para a plantação de videiras. As castas mais cultivadas são a uva Pinotage, que ocupa cerca de 50% de toda a área plantada. O restante é de uvas francesas Cabernet Sauvignon com 35%, Merlot com 7,5%, e Cabernet Franc no restante.

As videiras da Pinotage são plantadas em locais específicos para que recebam a melhor incidência solar, a fim de que atinjam sua maturação máxima. A maior parte dessas videiras possuem mais de 50 anos, e foram algumas das primeiras a serem cultivadas na cidade de Cabo.

Eu provei o Kadette, a segunda linha da vinícola. As uvas não provêm das vinhas Kanonkop, porém, a vinícola afirma que cada cacho trazido para si é submetido aos mesmos processos da primeira linha. Na ficha técnica, a Mistral pontua que o Kadette “é uma versão mais macia do consagrado Pinotage de Kanonkop. Ele nasce de uma safra quente e seca, demonstrando toda a sua exuberância nos aromas, com notas de frutas vermelhas, negras, e especiarias. Na boca apresenta taninos macios e equilibrados”.

Minhas impressões: é um tinto de aromas complexos e que mostra abundantes notas de frutas vermelhas (framboesa) e de frutas negras (ameixa e mirtilo) maduras, além de flor e de ervas frescas (tomilho). No decorrer da aeração, apresenta notas terrosas, aromas de especiarias (pimenta do reino) e uma sutil nota amadeirada. São aromas doces e frescos no geral. Ele é seco, de médio pra encorpado, com taninos altos e finos e com uma acidez salivante. Senti mais madeira na boca do que no nariz. E no retrogosto, competem as ervas e as frutas. O sabor é intenso e de grande ataque, embora o final seja médio.

É um vinho que vai se transformando na taça e brincando com o nosso nariz. Aliás, a temperatura de serviço e a aeração (nem que seja na taça) são cruciais pra bebê-lo na sua melhor forma. Mesmo depois de 4 anos, ele parece um vinho recém-feito… É tudo alto: a concentração de fruta, os taninos, a acidez. Adoraria experimentá-lo daqui uns 3 ou 4 anos pra acompanhar a sua jornada na garrafa.

Harmonização tinto javali

A harmonização parece simples, mão não foi. Tasquei uma fatia de pão de fermentação natural e a churrasqueira ajudou na elaboração de uma pasta de legumes (alho, berinjela, abobrinha e pimentão vermelho). Por cima, distribuí fatias de linguiça de javali. A combinação deixou na boca uma leve sensação defumada e com todos os sabores potencializados. Aliás, o vinho também entrou com as suas texturas, dando uma leve secada do paladar. Agradou geral.

Ele sai por R$242,64 no site da Mistral.

Outras degustações desse blog? É só clicar aqui.

Se você já experimentou o Kadette Pinotage 2017, avalie aqui embaixo!

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