Tem dias que a gente se prepara pra abrir um vinho. Faz a comida do zero, separa os pratos, acerta a temperatura de serviço, arruma um espaço pro decanter e bota as taças na mesa. Tira foto, posiciona e reposiciona tudo e vai anotando com cuidado todas as sensações percebidas na degustação.
Nesses tempos de isolamento, esses dias metódicos se tornaram regra. O nosso beber e comer estão exclusivamente caseiros e a única solução que resta pra variar as propostas de harmonização é apostar no delivery.
Mas enquanto a temporada de “vinho em casa” ainda está sendo organizada, resolvi postar sobre o Polaris. Ele não foi uma experiência recente: é uma memória daqueles bons tempos em que a gente deixava o saca-rolhas em casa e ia conhecer algum lugar bacana em São Paulo. No início de 2020, quando a pandemia ainda era só uma notícia distante por aqui, fomos ao Corrutela, um restaurante que fica na Vila Madalena e que trabalha com ingredientes frescos e sazonais. Eles têm uma carta de vinhos bem enxuta e eu fiquei curiosa pra conhecer o local.
Ápice do verão, temperatura pra lá de 30 °C… recordo de chegar ao Corrutela, agarrar a carta de vinho e ir em busca de uma opção que unisse delicadeza e frescor. Essas variáveis combinariam com boa parte dos pratos e com o calor diabólico da cidade. Acabamos com esse Muscadet nas taças que, segundo a garçonete, era um dos mais pedidos do local.
O produtor é a Domaine Batard Langelier, propriedade fundada em 1910. Jeremie e Claire Batard-Langelier são os atuais responsáveis por ela e trabalham para promover a riqueza da região, localizada na comuna de Maisdon sur Sèvre, em Muscadet Sèvre et Maine. O vinhedo possui 24 hectares, dos quais 95% são reservados para o cultivo da uva Melon de Bourgogne. Especificamente sobre a viticultura, a vinícola abandonou os fertilizantes químicos desde 1995 e 2014 foi o primeiro ano da conversão para a agricultura orgânica. A ideia, segundo o site, é produzir bons vinhos a partir de técnicas que respeitam o terroir e o meio ambiente.
Sobre o vinho, a única ficha técnica que encontrei foi nesse link. Nela, o Polaris é descrito como um vinho 100% Melon de Bourgogne, feito a partir de leveduras naturais, fermentado por 10 dias em um subsolo de concreto com controle de temperatura e engarrafado sem filtragem. Sua produção é restrita: apenas 10 mil garrafas.
Dito isso, vamos às impressões: o Polaris é um vinho branco de pouca intensidade aromática, com notas bem sutis de frutas cítricas (maçã verde), ervas frescas e mineral. Ele é seco, tem um sutil carbonatado, é de médio corpo e tem uma boa acidez.
Se você está procurando potência, escolha outra opção, porque esse vinho é puro frescor e leveza. É do tipo mais boca do que nariz, com aromas discretos e um sabor suave e agradável. É uma boa pedida pra quem quer só beber ou até beber e petiscar sem compromisso, já que ele é bem simples e fácil de beber.
No caso, beber e petiscar era a melhor opção. Os pratos do Corrutela não são muito grandes e acabamos pedindo 2 entradas, 2 pratos principais e 2 sobremesas. A brincadeira começou no pão de fermentação natural com manteiga de kefir e terminou no pavê de chocolate. Considerando todas as opções salgadas, achamos que o schnitzel de peixe com creme de milho foi o que melhor destacou o frescor do vinho, sem passar tanto por cima do seu sabor.
Não recordo do preço exato, mas acredito que ele estava na faixa dos R$100-120. No contra-rótulo, vi que a Vinho Mix é a distribuidora responsável, embora as buscas no seu site não me levaram a resultado algum.
Se você quiser outras opções de vinhos brancos é só clicar aqui.
E se você já experimentou o Polaris Muscadet Sèvre et Maine Sur Lie 2018, avalie aqui embaixo.