27/10/2020

O vinho de ânfora e as suas nuances

Categoria:  Degustação, Entre R$ 100 e R$ 200, Importado, Vinho Branco
Por: Tamine de Moraes
vinho português Talha de Argilla 2016

Talha de Argila Branco MMXVI – Herdade da Anta de Cima, Alentejo-Serra de Montargil/Portugal

Se a pandemia impossibilitou o beber junto, o toque físico e a proximidade do abraço, ao mesmo tempo ela impulsionou a vida virtual. Quer fazer ioga online? Quer aprender tango? Quer fazer pão de fermentação natural? Joga no google. Siga mais gente interessante no Instagram. Porque até a vacina chegar, boa parte da vida social está (ou deveria estar) atrás da tela.

Mas antes de torcer o nariz, saiba que ainda tem muita coisa bacana acontecendo online, principalmente pra quem gosta de vinhos. Num desses passeios virtuais, por exemplo, descobri que a sommelière Gabriela Monteleone criou o chamado Tão Longe Tão Perto, um projeto que promove o encontro entre produtores, especialistas da área (ou áreas afins) e amantes dos vinhos. As sessões acontecem por videochamadas que duram por volta de 2 horas. O participante precisa garantir a sua vaga com certa antecedência e pode escolher um dos boxes de vinhos oferecidos com 1, 2 ou 3 garrafas. E hoje já é possível assistir aos encontros sem comprar vinho algum.

Já faz algum tempo que eu participei do Capítulo 4 – Vinhos que nascem em ânfora, mas só consegui divulgar o evento agora. No box que eu escolhi à época vieram 3 vinhos, mas o único rótulo degustado passo a passo e que partiu pra harmonização foi o Talha de Argilla Branco 2016. Os outros 2 – Tinaja Moscatel de Alejandría 2019 do Estación Yumbel e GOT Bobal 2018 da Bodegas Gratias – foram bebidos durante a apresentação dos produtores.

Segundo o site da Herdade da Anta de Cima, o Talha de Argilla Branco 2016 nasce na serra de Montargil, região do Alto Alentejo. A herdade pertence à família Tenreiro e está localizada numa região de clima temperado, com precipitação média anual de 650mm, e sobre solos de barro mediterrânicos. Na Anta de Cima arrancaram-se as últimas vinhas na década de 50 do século passado e, como testemunha, a velha adega de talhas ainda resiste ao tempo. Em 2010, ressurgiu a vinha e em 2012 produziram-se os primeiros vinhos Argilla (branco e tinto), fruto de um projeto familiar que une a tradição e modernidade e que visa a excelência na produção de vinhos. Considerando o valor ecológico de sistemas diversificados, a Herdade trabalha diariamente no sentido da promoção da biodiversidade, da preservação de recursos hídricos, edáficos, genéticos e da criação de micro-economias circulares capazes de integrar da melhor forma a nossa produção nas condições deste sistema.

Sobre o vinho, a Herdade informa que 2016 foi um ano complicado e de quebra de produção. A colheita das uvas Alvarinho, Verdelho e Viosinho que compõe o Talha foi feita manualmente. Houve o desengace total antes do esmagamento, a fermentação aconteceu em talhas de barro de 140 litros, sem adição de leveduras. Foram 4 meses de estágio nas mesmas talhas onde fermentou. Por fim, o engarrafamento aconteceu em julho de 2017. A produção foi de 1.527 garrafas.

Ao degustá-lo, as impressões foram as seguintes: é um vinho branco de aromas simples – destaco as frutas cítricas maduras e as ervas frescas, tal como menta e hortelã. Ele é seco, tem médio corpo, tem uma boa acidez e um final longo. No retrogosto, a fruta madura ficou evidente.

Talha de Argilla Branco
Talha de Argilla vinho ânfora

Ao analisar o Talha com os olhos e com o nariz, o vinho passa a sensação de ser leve e delicado. Na boca, a estrutura da bebida, as texturas e a fruta bem evoluída surpreendem. Essa experiência me lembrou bastante a que tive com os vinhos verdes da Quinta da Palmirinha, apesar desta não utilizar talhas na sua vinificação.

Feitas as considerações, partimos pra harmonização. Nesse dia, fomos de Pizza d’A Queijaria! Os sabores escolhidos foram o Santo Jaime (mix de cogumelos temperados e forneados na manteiga de búfala com queijo de vaca, finalizada com tomilho limão) e 4 queijos (queijo de búfala, cabra, ovelha e vaca). Com a Santo Jaime, os saborosos cogumelos passaram por cima e reinaram em absoluto, deixando o vinho em segundo plano. Já o encontro com a de 4 queijos foi um primor não só pela combinação de sabores: a textura do vinho deixava o paladar sempre salivante pra uma nova mordida!

Harmonização pizza e vinho branco português
Vinho branco pizza harmonização

Atualmente, o Talha Argilla Branco 2016 sai por R$325 no site da Kogan Family Wines. Encontrei esse vinho no catálogo da importadora Dominio Cassis, mas não consegui visualizar o preço. E acredito já ter visto esse rótulo no menu de alguns restaurantes aqui de São Paulo nas mais diversas faixas de preço.

O projeto Tão longe Tão perto ainda continua e ganhou um site oficial com todas as informações pra quem quiser participar.

Por fim, se você já experimentou o vinho Talha de Argila Branco MMXVI, avalie aqui embaixo.

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