Ando aproveitando o isolamento pra revisitar alguns rótulos que experimentei ano passado. Este Riesling foi um deles e o nosso primeiro encontro aconteceu durante uma aula na ABS-SP.
A experiência foi positiva e achei que valeria o repeteco, pois tenho pouquíssimas opções de rótulos americanos na manga.
Pois é, eu já disse isso outras vezes e repito: não sou fã de carteirinha de vinhos americanos. E nem preciso embarcar no campo conceitual pra sustentar isso. Pensando exclusivamente no sabor, o número de experiências infelizes é bem significante. Ora sobra madeira, ora o álcool domina sem dó, ora tem um péssimo custo-benefício.
Porém, não desisto da busca por bons rótulos, pois é como eu disse no post anterior: é possível encontrar boas ideias em todo lugar, justamente porque há bons e maus produtores em qualquer lugar. E entre os bons e maus, tem os que são mais conceituais, os que são mais marqueteiros e os que são puramente comerciais. A indústria do vinho contempla de tudo um pouco e não só nesse lado da moeda: tem consumidor que só revela se gosta ou não do vinho depois de analisar a cadeia toda, do cultivo à boca. Da mesma forma, tem quem decida só pela boca. Ou só pelo preço, pela fama, pelas pontuações, etc. etc.
Se, por um lado, há produtores que enxergam seu vinho como uma história, por outro, há consumidores ávidos por ouvi-las. E se há produtores que enxergam seu vinho como uma marca, é certo que também haverá um público-alvo esperando por ele com a carteira na mão.
Dito isso, vamos ao vinho escolhido: esse Riesling é produzido pelo Chateau Ste. Michelle, conhecido hoje como um dos maiores produtores de Riesling do mundo. Segundo o seu site oficial, a filosofia do Chateau é elevar o estilo, a qualidade e a expressão dos seus vinhedos, respeitando as características das varietais e a individualidade de cada uva e local, sem deixar de entregar vinhos agradáveis e gastronômicos. Gosto de consultar os sites das vinícolas responsáveis pelos vinhos que eu bebo e vejo que o Chateau Ste. Michelle é mais um dos produtores que mencionam a sustentabilidade como um pilar. Segundo o site, eles não medem esforços no sentido de reduzir o consumo de energia, de conservar a água, de gerir e reduzir os resíduos sólidos e de promover programas de reciclagem de materiais.
No site oficial da vinícola consta apenas a ficha técnica da safra de 2019, cuja descrição é a seguinte (tradução livre): um vinho feito pra ser do dia a dia que traz sabor e aromas frescos de maçã com sutis notas minerais.
Acabei passando no site da WineBrands – a importadora responsável por trazer esse e outros vinhos da vinícola pro país – pra colher mais informações. A descrição do Riesling 2016 Vintage é a mesma da safra anterior: elaborado com uvas Riesling dos vinhedos de Chateau Ste. Michelle em Washington State, é o Riesling mais vendido do mundo, passando à frente inclusive dos professores alemães. Um vinho ligeiramente adocicado, fresco, muito agradável e fácil de beber. O Riesling para ter na geladeira sempre pronto para beber!
Percebo que o Chateau Ste. Michelle propõe um vinho Riesling que, safra a safra, seguem o mesmo padrão.
Quanto às impressões técnicas, elas são similares às descritas acima. O Riesling Vintage 2016 é um vinho branco aromático que traz muita fruta (pera e maçã verde), além de ervas frescas (hortelã e manjericão) e petróleo. Ele é adocicado, de médio pra encorpado, tem média persistência e uma boa acidez. Sobrou uma pontinha de álcool. No retro-olfato, a fruta e as ervas ganharam ainda mais destaque.
Vinhos adocicados são cansativos pra quem não curte o estilo. Ele não é meu tipo de vinho pro dia a dia e, se eu fosse bebê-lo sozinho, não conseguiria ir além de uma taça. Mas é preciso dizer que ele não se resume ao seu açúcar residual: é um vinho que tem uma boa estrutura pra acompanhar uma refeição e, dependendo do prato, é capaz de “dar um up” na combinação. Opções agridoces, queijos mais salgados e defumados… eu iria por esse caminho.
Como estávamos afim de pizza, resolvemos brincar com os recheios. Pedimos umas pizzas lá na Leggera Pizzeria Napolitana e fomos de La Divina Comedia (mozzarella de búfala, cacciocavallo defumado, manjericão, parmesão, linguiça curada picante, cebola roxa caramelizada e azeite) e 4 formaggi alle erbe (ricota fresca de búfala, parmesão, mozzarella fiordilatte, gorgonzola picante, manjericão, cebolete e azeite). Na primeira, os condimentos da pizza ganharam destaque; na segunda, o caráter frutado do vinho foi exaltado. A 4 formaggi acabou sendo a combinação mais gostosa pra nós.
Não acabamos a garrafa no jantar, então o vinho acabou acompanhando uma caponata no dia seguinte. Caponata bem caseira, com berinjela, abobrinha, azeitona, alcaparra, tomilho e bastante azeite. E não é que ficou bom?
Ele custou R$221 na WineBrands. A tributação claramente enterrou a propaganda “o Riesling do dia a dia” no Brasil. Tirando esse detalhe, conheço um bocado de gente que curtiria o seu status e o seu sabor.
Outras opções de vinhos brancos nacionais e importados? É só clicar aqui.
Se você já experimentou o vinho Riesling Vintage 2016 do Chateau Ste. Michelle, avalie aqui embaixo.