Certa vez, alguém me disse que o Chablis é o vinho branco mais conhecido no mundo.
No Brasil, ele é certamente muito famoso entre os especialistas e profissionais. Os bebedores de vinho mais experientes ou já beberam ou, pelo menos, já ouviram falar dele. Só que o grande público, o que mal consome uma garrafa de vinho ao ano, esse não tem ideia do que seja um Chablis.
E quando eu digo grande público, o “grande” é, na verdade, imenso. Na recente tabela de consumo de vinhos liberada pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), em 2018, o Brasil estrelou o 23º lugar do ranking com um consumo deprimente de 2.2 litros de vinho por habitante ao ano. Só pra comparar: Portugal ocupa o primeiro lugar com um consumo per capita de 62.1 l/ano. A vice-campeã é a França com 50.2l/ano e a vizinha Argentina é a 13º com 24.8l/ano.
Então, se for pra falar de Chablis em terras brasileiras, vale sempre a pena apresentá-lo, nem que seja brevemente.
Chablis é uma região francesa que fica ao norte da Borgonha. É uma Apelação de Origem Controlada (AOC) desde 1938. Para levar o nome “Chablis” no rótulo, o vinho deve ser feito nas áreas de cultivo pré-determinadas da região e ter como estrela a uva Chardonnay, a qual será vinificada de acordo com os padrões estabelecidos. Um dos maiores segredos de Chablis é o solo calcário – chamado de Kimmeridgian – composto de minerais e nutrientes gerados por fósseis marinhos compactados há milhares de anos. Esse solo confere características únicas aos vinhos lá produzidos. Falando neles, há 4 categorias de Chablis – Petit Chablis, Chablis, Chablis Premier Cru e Chablis Grand Cru. De forma geral, essas categorias variam uma da outra pela complexidade e pelo corpo do vinho, embora o frescor seja o elo que as une.
Então, quando se fala em Chablis, a elegância e o frescor são as virtudes mais desejadas.
Depois dessa rápida apresentação, vamos aos fatos!
Nós aproveitamos a 1º feira da importadora de la Croix que rolou meses atrás pra comprar alguns vinhos. Saímos de lá com 2 – um deles era esse Chablis Premier Cru.
O Domaine Gautheron é o responsável por ele. Segundo o site da importadora, trata-se de uma propriedade familiar que já está na sétima geração. Atualmente, os vinhos são elaborados por Alain e o filho Cyril, que cultivam as suas vinhas na região de Fleys, uma pequena vila de 160 habitantes. Os moradores dessa região eram chamados de “Gougueys”, palavra que significa “caramujos” no dialeto regional. A referência é tão importante que existem exemplares fossilizados desses caramujos em exibição da sala de degustação do Domaine Gautheron. Por fim, o tipo de solo sob o qual cultivam a suas vinhas explicaria o porquê dos seus vinhos serem extraordinariamente minerais.
Não encontrei a ficha técnica do Chablis Premier Cru “Montmains – Vielles Vignes” 2017.
Decididos sobre quando fazer a degustação e qual seria a harmonização que iria rolar depois, partimos pra farra.
As impressões técnicas foram as seguintes: é um vinho branco bem frutado – percebemos aromas de frutas brancas cítricas e de abacaxi bem maduro, além de uma nota mineral. Ele é seco, persistente, de médio corpo e com boa acidez. Logo nos primeiros goles já dá pra sentir a maciez e a fruta dominando o paladar.
Eu confesso que gostaria de ter sentido mais as características minerais do vinho. Tirando isso, ele é agradável e salivante. Conheço muita gente que não curte vinhos brancos por serem fracos ou por terem uma acidez muito elevada. Nesse caso, o vinho é saboroso e a acidez é o que o torna mais atraente, ainda mais ao lado de uma refeição.
Adotamos o tema frutos do mar e investimos em dois pratos que vieram lá do Restaurante Casa Europa. Foram um tagliolini ao vôngole e bottarga e um tagliolini nero com frutos do mar. Não teve nem dúvida: foi uma garfada de cada e o tagliolinni nero foi o vencedor. Os frutos do mar tinham uma base amanteigada e raspas de limão, o que, além de trazerem sabor e texturas saborosas para o prato, combinaram perfeitamente com todas as características do vinho.
O vinho é gostoso, mas o preço é elevado – na faixa dos R$250. Pensando bem, todos os vinhos da Borgonha que bebi ultimamente não saíram por menos de R$ 150… uma pena pra quem é fã da região!
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E se você já experimentou o Chablis Premier Cru “Montmains – Vielles Vignes” Gautheron 2017, avalie aqui embaixo.