Por: Tamine de Moraes
Ainda no clima do Tão Longe, Tão Perto, trago este vinho que comprei pra participar do capítulo 17 – Tudo o que você sempre quis saber sobre os vinhos da África do Sul.
No caso, é um tinto nada convencional: um 100% Cinsault da região sul-africana de Swartland.
Trata-se de um vinho de mínima intervenção e que reproduz certos aromas, texturas e sabor que me fazem lembrar de alguns rótulos que já tive a oportunidade de degustar, entre eles o natural e brasileiríssimo rosé do Entre Vilas.
Eu sei que ainda existe muito nariz torcido para os chamados vinhos naturais. Porém, acredito que eles acabaram por se consolidar como um resgate técnico e filosófico do vinho, antes uma resistência aos milhares de artifícios enológicos que pipocam por aí e menos uma modinha passageira, como se cogitou.
E, muito embora haja críticas pesadas sobre a qualidade de alguns desses vinhos, sejamos sensatos: a gente encontra absolutamente de tudo por aí. Tem do correto ao malfeito, dos produtores que aderem ao movimento por identificação aos que surfam nessa onda só pra fazer parte da rodinha… E fora esses contrastes, rola muita história boa de ouvir e, claro, muita historinha pra boi dormir.
Então, se é possível encontrar vinhos naturais ou de mínima intervenção alegres e deliciosos por aí, é normal que se encontre muita coisa intragável também. Só que esse “privilégio” não é só deles: entre os vinhos convencionais, tem muito tipão famoso e de marca que se diz incrível e não entrega nada, só status. Tem também bastante chá de madeira e abuso de retificações enológicas sendo engarrafados – sem vergonha alguma – nos 4 cantos desse mundão.
Infelizmente, nem sempre é fácil detectar quem é quem e o que é o que nessa área. Por isso é que experimentar um pouco de tudo é essencial e faz parte da construção do nosso senso crítico. E, além de beber, é preciso estudar, ouvir, conversar e errar até acertar.
Então falemos do The Gentleman and his Small Brother Cinsault 2019 do Wightman & Sons. É tinto sul-africano que, segundo a importadora Wines4you, é feito de “100% Cinsault de vinhedos em arbustos, sem irrigação, de cultivo biodinâmico, solo de argila e xistos. Um tinto leve, fresco, que nos leva para o Riebeeck Valley, ao sul da montanha Paardeberg, na África do Sul. Colhido a mão, fermentado com cachos inteiros e leveduras indígenas, em contato com as cascas por 5 dias, e envelhecido em carvalho antigo por 7 meses”.
A história do Wightman & Sons é bastante singela. A importadora conta que a Môrelig Vineyards é uma propriedade de pai e filho – Andrew e Brandon Wightman – uma dupla de fazendeiros e vinhateiros artesanais quase por acidente. É que, em 2011, Andrew e sua esposa Elise a compraram com o objetivo de criar gado. Só que acabaram sendo impedidos pelos vizinhos – um deles chamado Craig Hawkins, do projeto Testalonga – de derrubar cerca de 24 hectares de vinhedos existentes no local. Depois disso, acabaram naturalmente partindo pra vinificação e viram a demanda pelas garrafas dos Wightmans crescer com o tempo, a ponto de que a produção atual alcança muito mais do que seus amigos próximos.
Segundo Andrew Wightman, “nós cultivamos de maneira orgânica, o que quer dizer que não utilizamos venenos para controlar insetos ou ervas. Esperamos que os insetos bons comam os insetos ruins. Nós usamos apenas fungicidas que estão dentro dos limites de práticas sustentáveis. Tudo é feito a mão, nós arrancamos as ervas a mão, por exemplo. O equipamento mais sofisticado que temos nessa fazenda é um trator pequeno, que é usado raramente, para reduzir a compactação do solo. Um dia quando eu me aposentar, eu gostaria de arar com um cavalo”.
Falando do vinho, basta um giro na taça pra surgirem o morango, a cereja e a groselha, além de uma sutil nota defumada. Revela, também, uma nota que me remete à puba (massa extraída da mandioca fermentada). Ele é seco, de acidez e taninos médios e um final mais pronunciado e que lembra uma kombucha de frutas vermelhas.
Não acho que seja um tipo fácil pra quem não está acostumado a beber vinhos de baixa intervenção. Um cuidado indispensável é servi-lo na temperatura adequada. A Wines4you sugere entre 14 e 16ºC e, pelo menos, 20 minutos de decantação para uma melhor experiência..
Pro meu gosto, o vinho é muito mais atraente à mesa do que só. Por isso, resolvi servi-lo ao lado de um nhoque de abóbora caseiro com um molho rústico de tomate e um queijo de cabra maturado ralado por cima. O vinho e o prato deixaram uma leve secura na boca, mas acabaram trazendo um final de fruta cítrica tão gostoso que animou o almoço.
Ele custa 159 no site da Wines4you e acredito ser um acerto entre aqueles que curtem desbravar o mundão dos vinhos.
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Se você já experimentou o The Gentleman and his Small Brother Cinsault 2019, avalie aqui embaixo!