Já nem sei quando foi a primeira vez que ouvi falar deste vinho. Foi antes de 2018, com certeza, porque foi quando o Peverella 2014 ganhou destaque no guia Descorchados. Eu estava lá em Portugal e fiquei triste de não poder participar do evento.
De lá pra cá, ouvi muita gente falar sobre ele. Alguns amam a proposta, outros acham chocante.
Diversos especialistas destacam a irreverência do vinho e como ele representa o que o Brasil tem de melhor.
Antes da análise técnica, é bom que se diga que o vinho laranja (ou vinho de maceração) é bem diferente do vinho branco convencional. Embora seja feito com uvas brancas, ele é vinificado como se fosse um vinho tinto, ou seja: as cascas das uvas permanecem em contato com o mosto por um bom tempo e, com isso, o vinho ganha mais cor, mais textura e mais corpo.
Os aromas e o sabor acabam se diferenciando bastante, por isso, é melhor esquecer as referências clássicas, pois elas serão insuficientes para descrever a nova experiência.
O Peverella, por exemplo, é um vinho de cor âmbar, com aromas de damasco, licor de laranja, frutas secas e com um leve toque defumado. Ele é seco, de médio corpo, com a presença sutil de taninos e boas persistência e acidez.
Só consegui encontrar a ficha técnica do vinho no site da Vinhos Mundi. Vale a pena conferir.
É um vinho que certamente impressiona da cor ao sabor. Passa bem longe do que se entende como convencional, principalmente por se comportar como um estilo entre tinto e branco. Estruturado e de boa complexidade aromática, é um presente para os sentidos.
Durante a degustação, veio a lembrança do Dettori Renosu Bianco que é identificado com um exemplo de vinho laranja. Apesar de ter gostado bastante desse vinho italiano, ele não é nada semelhante ao brasileiro, que é muitíssimo mais potente em termos de cor, aromas e sabor.
Superada a análise técnica, servimos um guizado de porco bem reduzido e foi uma decisão acertada. O vinho é saboroso e tem corpo e texturas capazes de combinar com pratos mais carnudos, bem temperados e intensos. Era pra ser um almoço discreto, mas foi bem melhor do que isso.
Não é um vinho barato: ele custou R$180 na feira e é vendido na faixa dos R$250 nos e-commerces. Se der pra comprar direto com o produtor, melhor.
Depois dessa experiência, eis a conclusão: não acho que o vinho laranja seja superior ou inferior a nenhum outro. É um estilo incrível, uma opção fora da caixa e um desafio para o paladar. Saber que um vinho brasileiro como o Peverella é capaz de mexer com a razão e com os sentidos de muitos enófilos e especialistas é um motivo de orgulho. O país precisa de propostas éticas e criativas para colocar os seus vinhos no mapa e o primeiro passo para alcançar isso é superar a síndrome de vira-lata e começar a aplaudir quem já anda fazendo história por aí.
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E se você já experimentou o Peverella 2016, avalie aqui embaixo.