Mais um vinho – ou menos um – do box Mineralidade e o Sentido da vida, capítulo 11 do projeto Tão Longe Tão Perto, criado e conduzido pela sommelière Gabriela Monteleone.
Já falei sobre esse projeto aqui e aqui e ainda tem mais coisa vindo pela frente.
Esse delay entre a minha participação no projeto e este post aconteceu pelo mesmo motivo de sempre: pandemia e isolamento. Essa combinação, junto com as notícias mundo afora, afetaram bastante o meu ritmo de produção.
Aliás, mesmo depois de tanto tempo nessa situação, ainda não entendi muito bem como fazer as coisas fluírem no caos.
Melancolias à parte, eu já falei que gosto muito dessas propostas de conectar vinho & produtor & consumidor. Partilhar o conhecimento e as vivências são importantes sempre e em qualquer profissão. Nesse capítulo 11, em particular, rolou uma discussão longa sobre terroir e produção de vinhos, temas que costumam ser ignorados por muitos winelovers do varejo, mas que são essenciais para entender o perfil do vinho que está ali, na sua taça.
Verdade seja dita: a relação prazerosa com um vinho importa tanto quanto a compressão sobre a sua produção, o sistema no qual ele está inserido e sobre quem o produz. Não ir além das meras sensações de prazer hoje é, também, uma forma de comprar um vinho às cegas.
Nesse contexto, apresento o Zuccardi Q Chardonnay 2018. A uva já bem conhecida no mercado brasileiro e é uma das mais amadas entre as variedades brancas. O vinho é fruto do trabalho da Família Zuccardi, uma bodega argentina cuja filosofia se baseia na elaboração de vinhos de qualidade, sem deixar de reconhecer, durante esse processo, a importância do meio ambiente e o papel que representa perante a sua comunidade.
Quando degustei o Polígonos Malbec 2018, comentei naquele post a influência da família Zuccardi no panorama dos vinhos argentinos. Sebástian Zuccardi foi eleito o melhor enólogo de 2019 pelo Guia Descorchados e a bodega foi reconhecida pela World’s Best Vineyard como a Melhor Vinícola do Mundo e a Melhor Vinícola da América do Sul em 2019, 2020 e 2021.
Se títulos bastassem, acredito que esses já significariam muito pros bebedores de pontuação.
Eu não me importo. Porque as perspectivas de um produtor, ao lado dos vinhos, são as coisas que mais me atraem. Inclusive, ouvir o Sebástian contar sobre as suas experiências e o valor que a bodega dá ao meio ambiente e social é, certamente, o que torna a jornada da Família Zuccardi tão bem-sucedida. Fora que a sensação de beber algo que foi produzido com ética – e não com química – faz valer cada centavo pago.
O Chardonnay Q 2018 é importado pela Grand Cru. Em termos gerais:
Impressões: o vinho tem aromas doces de abacaxi, além de tomilho e alecrim. Conforme a taça gira, surgem as nuances amendoadas e amanteigadas, além de uma delicada nota defumada. É de médio para encorpado, bem persistente, com um retrogosto marcado pela fruta bem madura e ervas. Traz uma sensação de amargor bem sutil, quase imperceptível.
É vinho branco intenso, estruturado e que tem bastante personalidade. É fácil de beber e um convite aberto para harmonizar. Aliás, vou na mesma linha do Sebástian Zuccardi, quando questionado a respeito de suas expectativas sobre vinhos: além do prazer em bebê-los e da história que eles contam, o vinho deve ser, também, uma parte à mesa.
Nesse caso, compramos 3 sanduíches do Barú Sandú: foram o La Milanga (milanesa de pescado), o El Perola (atum na brasa) e o El Pancho (tempurá de camarão). As fotos não ficaram das melhores – delivery é isso, gente – mas o que conta é a descrição: o de atum tinha um sabor defumado intenso e o de camarão era deliciosamente picante, características que acabaram se sobressaindo demais e não combinaram tanto com o vinho. Embora potente, o de milanesa de pescado deixou menos arestas, dando mais espaço pro vinho expor sua fruta e o seu frescor.
Na Grand Cru, o vinho sai por R$221.
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Se você já experimentou o Zuccardi Q Chardonnay 2018, avalie aqui embaixo!